A FPCEUP

A Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação é, na Universidade do Porto, a escola onde se realizam o ensino e a investigação nas áreas da Psicologia e de Ciências da Educação, tendo iniciado as suas actividades no ano lectivo de 1976/77.Actualmente, mais de 900 alunos frequentam a FPCEUP, distribuídos por dois cursos de licenciatura e 500 alunos de pós-graduação, mestrado e doutoramento, tendo alcançado uma implantação significativa no tecido social, em áreas como a educação, a justiça, a saúde, a administração pública central e local, a animação sócio-cultural, o trabalho em empresas, etc.

Introdução

Esta "investigação" foi realizada no âmbito das disciplinas de Introdução às Ciências Sociais (ICS) e Seminário de Introdução à Mediação e Formação: Temas e Problemas da Educação Contemporânea (SIMFTPEC).
Após realizarmos uma incursão à cidade do Porto com o objectivo de recolher algumas fotos relacionadas com a matéria das disciplinas ("(Entre)vistas"), foram reunidas as fotos de todos os alunos da turma e surgiram dois grandes temas: Património e Comunicação.
O grupo escolheu o tema “As Concepções dos Portuenses acerca do Património”, pois tinha curiosidade em saber se a população da cidade saberia definir Património.
O principal objectivo do nosso estudo é avaliar as concepções que os habitantes da cidade do Porto têm acerca do Património. Mais concretamente, pretendemos perceber quais os tipos de Património considerados pelos Portuenses e quais as características que estes valorizam na classificação de algo como Património.
Inicialmente, iremos definir conceitos fundamentais à compreensão do tema, tais como, conceitos de património, cultura e natureza e estabelecer relações entre eles.
De seguida, descreveremos o processo utilizado pelo grupo para fundamentar os conceitos acima referidos e para ficar a conhecer as concepções pessoais da amostra acerca do tema a abordar.
Finalmente, analisamos os dados provenientes da amostra e comparamo-los com os conceitos principais, de modo a analisarmos o nível de conhecimento da população do Porto em relação ao Património.

Definição de Património

O tema deste trabalho é o Património. Mas o que é o Património? O que significa? O que pode ser considerado Património? Qual a sua importância?


A palavra património deriva do latim patrimonium que significa bens de família. Actualmente, os dicionários e as enciclopédias consideram património: os bens de família; a herança paterna; os bens indispensáveis à ordenação de um eclesiástico; qualquer bem material ou moral pertencente a alguém ou a alguma instituição ou colectividade.

Mas esta definição tem sofrido várias mudanças ao longo dos tempos.


- Na Antiguidade o Património era entendido como o conjunto de bens materiais pertencentes a uma pessoa, a uma pessoa jurídica, a uma casa ou instituição.

- Durante a revolução francesa, surgiu a necessidade de alargar este conceito aos bens artísticos e aos monumentos pertencentes a uma nação, pois os conflitos armados puseram em risco a integridade de alguns edifícios franceses e as maiores obras artísticas do país foram saqueadas e vendidas no estrangeiro.

- O século XIX trouxe os conceitos de monumentos históricos e monumentos nacionais. A palavra monumento deriva do verbo latino monere que significa lembrar. Assim, os monumentos eram tudo aquilo que permitia relembrar épocas passadas. Os monumentos históricos estavam ligados a eventos marcantes da História Mundial, enquanto que os monumentos estavam ligados à História do País em que se encontrava.

- O século XX enriqueceu largamente a definição de património. Começou-se a falar de Património Europeu, para depois se passar ao Património Mundial. A criação da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) trouxe pluralidade e uma visão mais global à definição de património.

- Actualmente, os bairros antigos, as ilhas, as partes antigas das urbes, aldeamentos, paisagens, sítios, bens naturais, também já são património.

- Outra grande inovação foi considerar que as antigas indústrias e as suas maquinarias eram também património, pois num mundo em constante mudança tecnológica, é importante preservamos a História da Indústria.

- As evoluções científicas evidenciaram a importância de certas espécies para o sistema ecológico do planeta e, por ser importante preservamos essas espécies, também já são consideradas património.

Classificação do Património

Quem tem a função de classificar o que é ou não património é a UNESCO. Para isso, criou uma lista de critérios a ter em conta na classificação dos bens.

Até 2004, esta lista estava dividida em “Critérios Gerais” e “Critérios Complementares”. Os Critérios Gerais estavam subdivididos em categorias:

· Histórico-Cultural
· Estético-Social
· Técnico-Científico

As “categorias” dos Critérios Complementares eram:

· Critério da Integridade
· Critério da Autenticidade
· Critério da Exemplaridade

Actualmente existe uma lista única de classificação de bens como património. Para algo ser considerado património deve:

(i) Representar uma obra-prima do génio criador humano.
(ii) Testemunhar uma troca de influências considerável durante um dado período ou numa área cultural determinada, sobre o desenvolvimento da arquitectura, ou da tecnologia das artes monumentais, da planificação das cidades ou da criação de paisagens.
(iii) Fornecer um testemunho único ou excepcional sobre uma tradição cultural ou uma civilização viva ou desaparecida.
(iv) Oferecer um exemplo excepcional de um tipo de construção ou de conjunto arquitectónico ou tecnológico ou de paisagem ilustrando um ou vários períodos significativos da história humana.
(v) Constituir um exemplo excepcional de fixação humana ou de ocupação do território tradicionais representativos de uma cultura (ou de várias culturas), sobretudo quando o mesmo se torna vulnerável sob o efeito de mutações irreversíveis.
(vi) Estar directa ou materialmente associado a acontecimentos ou a tradições vivas, a ideias, a crenças, ou a obras artísticas e literárias com um significado universal excepcional.
(vii) Serem exemplos excepcionais representativos dos grandes estádios da história da terra, incluindo o testemunho da vida, de processos geológicos em curso no desenvolvimento das formas terrestres ou de elementos geomórficos ou fisiográficos de grande significado.
(viii) Serem exemplos excepcionais representativos de processos ecológicos e biológicos em curso na evolução e no desenvolvimento de ecossistemas e de comunidades de plantas e de animais terrestres, aquáticos, costeiros e marinhos.
(ix) Representarem fenómenos naturais ou áreas de uma beleza natural e de uma importância estética excepcional.
(x) Conter os habitats naturais mais representativos e mais importantes para a conservação in situ da diversidade biológica, incluindo aqueles onde sobrevivem espécies ameaçadas que tenham um valor universal excepcional do ponto de vista da ciência ou da conservação.

O que é Património

Em 2004, a UNESCO possuía 754 bens inscritos na sua lista do Património Mundial, situados em 129 Estados. Treze desses bens encontram-se localizados em Portugal e 21, embora não se localizem em Portugal, têm origem Portuguesa.
Estes bens estão divididos em três categorias: bens culturais, bens naturais e bens mistos.

Os bens culturais são:

i) Os monumentos – Obras arquitectónicas, de escultura ou de pintura monumentais, elementos de estruturas de carácter arqueológico, inscrições, grutas e grupos de elementos com valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;

ii) Os conjuntos – Grupos de construções isoladas ou reunidos que, em virtude da sua arquitectura, unidade ou integração na paisagem têm valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;

iii) Os locais de interesse – Obras do homem, ou obras conjugadas do homem e da natureza, e as zonas, incluindo os locais de interesse arqueológico, com um valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico.

Os bens naturais são:

i) Os monumentos naturais constituídos por formações físicas e biológicas ou por grupos de tais formações com valor universal excepcional do ponto de vista estético ou científico;

ii) As formações geológicas e fisiográficas e as zonas estritamente delimitadas que constituem habitat de espécies animais e vegetais ameaçadas, com valor universal excepcional do ponto de vista da ciência ou da conservação;

iii) Os locais de interesse naturais ou zonas naturais estritamente delimitadas, com valor universal excepcional do ponto de vista a ciência, conservação ou beleza natural.

Os bens mistos são os bens que respondem a uma parte ou à totalidade das definições de património cultural e natural.

A Natureza

A expressão Natureza aplica-se a tudo aquilo que tem como característica fundamental o facto de ser natural, ou seja, envolve todo o ambiente existente que não teve intervenção do Homem.
Assim, a Natureza corresponde ao mundo material e, em extensão, ao Universo físico e a toda sua matéria e energia, inseridas num processo dinâmico que lhes é próprio e cujo funcionamento segue regras específicas (estudadas pelas ciências naturais).
Com o avançar das ciências, o Homem começou a perceber que muitas das suas acções sobre o meio provocavam mudanças nefastas e irreversíveis. Estas acções levaram ao desaparecimento de várias espécies e, consecutivamente, à destruição de vários ecossistemas.
Estas transformações ambientais tiveram consequências directas sobre o clima e, indirectamente sobre o Homem (por exemplo, o efeito de estufa que leva ao sobreaquecimento terrestre e ao degelo das regiões polares. Isto leva a um aumento do nível das águas do mar, provocando enchentes em vários países.).
Ao perceber que as suas acções poderiam levar ao desaparecimento da espécie humana, o Homem preocupou-se com a continuidade das espécies de modo a assegurar a sua sobrevivência. Para tal, criaram leis que protegessem o ambiente.
Deste modo, várias espécies biológicas foram consideradas património, assim como paisagens e florestas.

A Cultura

A noção de cultura é importante dado que engloba um conjunto de produções materiais (edifícios, estradas, instrumentos, medicamentos, etc.) e espirituais (valores, normas morais, sociais, jurídicas, religiosas, usos e costumes, conhecimentos científicos e filosóficos, formas de organização social), que o homem herda, enriquece, transforma e transmite as gerações futuras.
A cultura é a resposta encontrada pelo homem para resolver os problemas da sua relação e da sua adaptação ao meio.
A cultura dispõe de uma linguagem própria que é diversificada, garantindo o funcionamento do sistema relacional entre os membros de um grupo. Permite relembrar, comunicar e a transmitir o capital de que o indivíduo dispõe (herança cultural), esta pode ser concretizada de sujeito para sujeito e de geração para geração.
Esta herança cultural foi transmitida através de sistemas simbólicos (linguagem); do sistema jurídico (direito, leis); de livros e outros documentos e das artes.
Assim, a cultura possibilita ao ser humano criar mecanismos materiais e ideológicos que lhe permitissem sobreviver e por outro lado progredir.
Em suma, a cultura reflecte, a cada momento, a realidade material e espiritual da sociedade, do homem-indivíduo e do homem ser social, face aos conflitos que o opõem à natureza e aos imperativos da vida em comum.

O Inquérito

1ª Parte

1-Idade _____

2-Sexo _________

3-Profissão _________________


2ª Parte

1 - Defina Património.
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2 - Dê 3 exemplos de Património.
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

A Amostra

O grupo entrevistou vinte e oito portuenses, dos nove aos sessenta e sete anos de idade, exercendo variadas profissões. Dos inquiridos, quinze pertenciam ao sexo feminino, enquanto que treze pertenciam ao masculino.

As profissões da amostra são:

  • Ajudante da Acção Educativa (1)
  • Cortadeira (1)
  • Desempregado (1)
  • Doméstica (1)
  • Motorista(1)
  • Operador de Máquinas Reformado (1)
  • Porteiro (1)
  • Técnica de Análise Clínicas (1)
  • Telefonista (1)
  • Professora (3)
  • Radioterapeuta (6)
  • Estudante (9)

Resultados

Na primeira pergunta da entrevista, pedimos que nos definissem o que é o património.
Na segunda questão, pedimos que nos mencionassem três exemplos de património.

Estes foram as características que os portuenses relacionaram com o património:

1- Não sabe (8)
2- Identidade de um país (6)
3- Pertença de alguém (6)
4- Valor cultural (4)
5- Antiguidade (2)
6- Legado (2)
7- História de uma nação (2)
8- Estética (1)
9- Herança genética (1)
10- Intemporalidade (1)
11- Valor natural (1)

Os tipos de património mencionados foram:

1- Monumentos (6)
2- Edificios religiosos (6)
3- Património natural (4)
4- Património cultural (4)
5- Bens pessoais (3)
6- Património genético (3)
7- Património Mundial (2)
8- Herança familiar (1)

É importante salientar que as idades da amostra que respondeu não saber o que era o património, estão compreendidas entre os 9 e os 16 anos de idade.

Conclusões

Após análise e discussão dos resultados foi possível concluir que, enquanto os adultos apresentam várias definições para o conceito de “património”, os jovens têm dificuldade ou mesmo não sabem defini-lo.
Os adultos inquiridos não apresentam grandes diferenças nas suas definições, considerando património algo que lhes pertence, seja enquanto seres individuais, como por exemplo, a casa e o carro; ou enquanto comunidade, como por exemplo, monumentos, estátuas, igrejas e gastronomia (Vinho do Porto).

Questões e Soluções

No decurso da realização deste trabalho, deparamo-nos com várias problemáticas:

1- Se os adultos conhecem e são capazes de definir património porque é que os jovens não o são?
1.1- Será que os adultos transmitem a mensagem de forma correcta?
1.2- Será que os jovens não conseguem entender e captar a informação que os adultos lhes tentam passar?
1.3- Ou será que estes não estão interessados em adquirir conhecimentos acerca desta matéria?

Em algumas escolas do país podemos constatar que já existe uma preocupação em sensibilizar os jovens em temas relacionados com o património, articulando esforços entre os ensinamentos da escola e a educação transmitida pelos pais, que, por vezes, não conseguem passar devidamente a mensagem aos seus filhos. Então, a escola irá funcionar como um complemento à instrução dos jovens alunos, desenvolvendo esforços através da introdução da “Área Projecto”, unidade curricular onde procuram consciencializar os jovens para a problemática do património e sua importância.
Esta unidade curricular possibilitou a interacção dos jovens pertencentes a essas escolas com meio, de forma a ter maior facilidade de inserção nessa mesma sociedade. Para tal, procura promover visitas de estudo que permitam aos alunos aceder a conhecimentos relativos à história da cidade onde vivem, assim como, às actividades económicas e quotidianas. Todas estas acções têm como único objectivo a consciencialização dos jovens, pois estes são os responsáveis por garantir a continuidade desse mesmo património. Cabe também a estes jovens a função de enriquecer e criar património para transmitir às gerações vindouras, como forma de preservar a sua própria identidade.
Assim, achamos importante que se desenvolvam estratégias deste tipo em todas as escolas do país de forma a motivar os jovens para a preservação do património.
Pensamos também que as entidades responsáveis pela preservação do património nacional deveriam realizar mais campanhas de sensibilização junto da sociedade, de forma a atingir toda a população, letrada e não letrada, jovem e adulta.
Esta falta de informação por parte dos jovens leva a que estes não respeitem os edifícios da sua cidade. Assim, os fenómenos de vandalismo são mais frequentes entre as camadas jovens.
Ao não compreenderem a importância daquilo que os rodeia, os jovens não tentam manter em bom estado as estruturas arquitectónicas. O fenómeno dos graffiti é um claro exemplo desta falta de respeito pelo património. Ao “sujarem” algo que não lhes pertence, estão a comprometer a visão estética que o autor dessa construção desejava transmitir.
Para combater este fenómeno, pensamos ser importante criar espaços onde esta actividade possa ser desenvolvida livremente pelos “amantes” desta “arte”. Este é um direito que os graffiters têm reclamado.
Se analisarmos a História de outras actividades, poderemos constatar que, actividades hoje consideradas vulgares, foram proibidas de serem praticadas, pois eram associadas a grupos de rua (situação em que, actualmente, se encontram os graffiti). O skate, que foi associado a grupos de rua, e o futebol, que foi proibido de jogar nas ruas de Inglaterra, já têm hoje áreas específicas onde podem ser praticados. A lei não permite que qualquer pessoa escale os edifícios, no entanto, há zonas de escalagem.
Pensamos que, talvez, com a criação de áreas especiais para a prática dos graffiti, o número de incidências venha a diminuir.

Não conseguimos responder a todas as interrogações que nos surgiram, mas isso faz parte, afinal, ninguém sabe tudo. No entanto, continuaremos à procura das respostas...

Conclusão

Este foi um trabalho interessante, pois permitiu-nos conhecer directamente as ideias de algumas pessoas acerca do património. Permitiu-nos também alargar os nossos conhecimentos acerca dete tema, pois não pensávamos que este fosse um tema tão vasto como, realmente, é.
Conhecendo melhor o património, podemos preservá-lo de forma mais eficiente e podemos transmitir a informação que adquirimos acerca desta matéria às pessoas que nos são mais chegadas e todos os leitores deste blog, ajudando, ou pelo menos tentando ajudar, à conscencialização da importância deste no nosso passado, presente e futuro, pois,

"O Património é o Futuro do nosso Passado"